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Mercado reage mal com Tebet no Planejamento sem bancos e dólar sobe 1,5%

Senadora do MDB e candidata à presidência deve ser confirmada na pasta, mas investidores alegam que ela não terá influência na gestão de Lula

    O dólar apresentou forte valorização frente ao real nesta terça-feira (27), demonstrando a continuidade de um movimento de aversão aos investimentos de risco iniciado na véspera, quando a sessão foi marcada pela expectativa de avanço da inflação no próximo ano.

A composição do governo do presidente diplomado Luiz Inácio Lula da Silva (PT) ganhou mais uma vez a atenção de investidores nesta terça, sobretudo após a confirmação de que a senadora Simone Tebet (MDB-MS) aceitou assumir o Ministério do Planejamento e Orçamento, mas sem a possibilidade de que a pasta abrigasse também bancos públicos, como havia sido inicialmente cogitado.

Alguns analistas avaliaram que a senadora, com visão mais alinhada ao mercado, terá pouca influência na gestão petista. A desvalorização do real nesta sessão também foi atribuída, entretanto, a questões técnicas, como um ajuste em relação aos ganhos obtidos na semana passada.

A moeda americana negociada à vista fechou o dia com alta de 1,49%, cotada a R$ 5,2860 na venda. O real entregou o pior retorno à vista frente ao dólar, na comparação com as principais moedas globais e também com uma cesta composta por países emergentes. Na segunda-feira (26), a divisa americana já havia avançado 0,81% contra a brasileira.

Tebet é mencionada por Simone Pasianotto, economista-chefe da Reag Investimentos, como uma política que não desperta preocupações entre investidores, mas ela destacou que o espaço destinado por Lula à senadora pode ter desagradado parte do mercado.

“Não é que o mercado desgoste da Simone Tebet, pois ela é vista como uma política com visão mais ao centro, mas há certo ceticismo sobre a possibilidade de que ela faça algo diferente dentro de uma equipe econômica com visão mais política do que técnica”, comenta Pasianotto.

No mercado de ações, o índice parâmetro da Bolsa de Valores brasileira caiu 0,15%, aos 108.578 pontos. Na véspera, o Ibovespa cedeu 0,87%. A Bolsa chegou a cair mais de 1% até o início desta tarde, mas obteve recuperação parcial com a valorização de ações de exportadores de minerais metálicos e de outros materiais básicos, o que amenizou perdas em segmentos mais sensíveis a inflação e juros, como o varejo.

Os papéis da Vale subiram 2,39% e foram as mais negociadas do dia. A despeito das preocupações com a política doméstica, o noticiário sobre o exterior contribuiu com a recuperação parcial do Ibovespa devido à expectativa do fim da quarentena da Covid para viajantes que chegarem à China a partir da segunda semana do ano que vem.

Charo Alves, especialista da Valor Investimentos, destacou que o impulso dado à Bolsa pelas notícias sobre a reabertura da China só não foi maior porque a política doméstica entrou no foco dos investidores devido à quebra da expectativa de que os bancos públicos poderiam ficar sob a influência de Tebet.

“É difícil afirmar que esse seja o único fator, mas acredito que isso possa ter contribuído com essa virada de chave no mercado”, diz.
Alves também destacou que o potencial aquecimento da economia chinesa com a queda de restrições contra a Covid, apesar de positivo para o setor de commodities da Bolsa, tende a provocar temor quanto ao avanço da inflação global, afetando negativamente empresas mais sensíveis às altas dos preços ao consumidor e ao encarecimento do crédito.

No mercado de juros futuros, após uma abertura em alta, os contratos com vencimentos para os próximos anos passaram a recuar ligeiramente. A taxa DI (Depósito Interbancário) para 2024 caía de 13,57% para 13,54%. Negociada apenas entre instituições financeiras, a taxa de juros DI serve de referência para esse mercado.

Leonardo Piovesan, analista da Quantzed, também considera que a proximidade do início do novo governo amplia a apreensão entre investidores que, diante de incertezas, preferem vender ativos que ganharam valor na semana passada, quando houve valorização da Bolsa e do real.

“Há uma realização de lucros com o pessoal um pouco mais receoso de que possa acontecer alguma coisa nessa transição de governo”, disse Piovesan. Sem negociações na véspera, o preço do barril do petróleo Brent subia 0,79% no final da tarde desta terça, cotado a US$ 84,58 (R$ 446,80). O Brent serve de referência para os preços praticados por empresas do setor no Brasil, como a Petrobras. As ações mais negociadas da estatal na Bolsa brasileira terminaram a sessão em alta de 0,68%.

A Rússia suspendeu exportações para países que impuseram a ela uma limitação ao preço para a sua produção de petróleo, que está entre as maiores do planeta. Na segunda-feira (26), o relatório Focus do Banco Central apontou que o mercado elevou sua projeção para a taxa básica de juros (Selic) em 2023, prevendo que ela fechará o ano em 12%, superando os 11,75% previstos há uma semana.

Há expectativa de que o Banco Central terá menos espaço para reduzir o aperto monetário após fechar este ano com a taxa em 13,75%. O boletim também indicou uma elevação marginal das projeções para a inflação no ano que vem, para 5,23%. Antes, era de 5,17%. O teto da meta para 2023 é de 4,75%. A projeção para os preços administrados no período subiu de 6,23% para 6,53%.

Para 2024, a expectativa para o IPCA aumentou de 3,50% para 3,60%. Em nota, a Ativa Investimentos avaliou que o último Focus do ano, após a PEC (proposta de emenda à Constituição) da Gastança ter sido aprovada, registrou uma “piora significativa da conjuntura”.

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