✦ Agronegócio

Super safra de café em 2022 está cada vez mais distante do produtor, avaliam pesquisadores

Os próximos meses serão determinantes para definir a safra do ano que vem.

  A expectativa de uma super safra de café em 2022 fica cada vez mais longe da realidade do cafeicultor brasileiro. Acumulando problemas climáticos, as lavouras da principal área de produção de café, desde o ano passado, sente os impactos da seca e nesta semana, a geada registrada em 20 de julho agrava ainda mais a situação.

Os números ainda estão sendo levantados por produtores e técnicos agrícolas, mas três dias após a geada a primeira impressão é unânime: o evento climático foi muito significativo e os impactos devem aparecer nos próximos meses. 

Para o pesquisador Roberto Antônio Thomaziello, três dias depois, as informações e imagens do parque cafeeiro ainda chamam muito a atenção. “A extensão foi muito grande, o que me chama atenção além da Mogiana e do sul de Minas, é a condição do café no Cerrado Mineiro que nunca tinha tido um evento desse tipo. A geada foi bem extensa e com intensidade bastante variada entre as lavouras”, comenta. 

Geada em café na cidade de IbiraciMG (15)

Em relação à severidade da geada, Thomaziello comenta que apesar da extensão da geada, alguns produtores foram duramente atingidos, enquanto alguns sentiram os impactos com menos intensidade. Apesar das fotos chamarem a atenção para o cafezal queimado, o especialista alerta que muitos problemas só poderão ser sentidos nos próximos meses. 

“Tem muita lavoura que não queimou, mas que com certeza pegou a gema floral da planta. Esse frio, mesmo onde não queimou pode ter afetado a gema floral e isso nós só vamos saber na época da florada, e o impacto é diretamente em perda de produção”, acrescenta. 

Também acompanhando de perto o drama do parque cafeeiro, José Donizeti Alves, professor e pesquisador da Universidade Federal de Lavras (UFLA), destacou durante a semana que todas as lavouras abaixo de 870 metros foram atingidas.

“Só desespero por parte dos cafeicultores nas muitas áreas que foram afetadas. As lavouras que visitei e os muitos relatos e fotos que estou recebendo apenas comprovam que esta geada veio com o pacote completo: queima de folhas, ramos, frutos e possivelmente caule”, relata. 

Destaca também que o problema muito sério é a massa de ar frio que passou pelas lavouras e não provocou a queima. “Isso vai ser muito sério porque não é visível agora e o efeito negativo dessa massa de ar frio vai acontecer somente a partir de agosto. O que vai acontecer é que essa massa de ar frio vai desidratar a gema, o que vai levar a morte e provocar uma super brotação nos nós mais internos dos ramos. Então vai ter uma brotação muito grande e esses brotos vão concorrer com as gemas reprodutivas. Ou seja, essas gemas não vão gerar botões florais e mais pra frente não vai gerar fruto”, comenta.

Tão intensa que nós podemos comparar com a geada que se formou em 1994. “Essa geada que se formou agora, em 2021, foi igual ou pior que em 94. Então nós temos uma geada que a gente não via há mais de 25 anos”, acrescenta. Em relação aos problemas que começam lá trás, no ano passado, o professor comenta que o ano de 2022 era pra ser só alegria. “No entanto, o que era pra ser alegria desde o segundo semestre começou um pesadelo com a seca”, comenta o especialista. 

É importante lembrar que com o déficit hídrico, a janela de crescimento vegetativo da planta foi ainda mais curto. A estação chuvosa atrasou e posteriormente foi mantida a irregularidade e os baixos volumes.  “Aquela bienalidade positiva já começou a cair devidos a problema que aconteceu no segundo semestre do ano passado. Depois tivemos dois veranicos fortes em janeiro e março que também afetou o crescimento dos ramos que já eram baixos e afetou mais ainda. Essa seca do segundo semestre e os dois veranicos diminuiu, no mínimo, quatro nós a menos em cada ramo”, explica.

Geada no parque cafeeiro

Retorno da chuva vai ser determinante 

Os próximos meses serão determinantes para definir a safra do ano que vem.  José Braz Matiello, engenheiro agrônomo da Fundação Procafé, destacou em entrevista ao Notícias Agrícolas,  que ainda é muito cedo para falar em quebras, mas alerta que a condição hídrica do solo chama atenção e de fato preocupa o setor. 

De acordo com dados apresentados pelo especialista, além do atraso na estação chuvosa na florada da safra 2021, o corte nas precipitações também aconteceu antes do esperado, deixando a situação do solo ainda mais crítica. “A gente dá uma perspectiva, a gente não sabe exatamente o que vai acontecer, mas a gente vai mostrar como está a situação com o que temos hoje”, acrescenta. 

Matiello explica que o grande problema é que a planta não teve o crescimento vegetativo dentro do ideal. “O número de nós está um pouco abaixo e quando a gente compara com a lavoura irrigada, a gente vê que essa lavoura tem pelo menos dois nós a mais”, explica. O enfolhamento também chama atenção do especialista, que comenta as folhas estão menores e o internódio mais curto. “Esse internódio mais curto ele não permite um grande número de frutos. Essa falta de chuva está levando a um estresse muito preocupante”, explica.

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